A lua pareceu querer concentrar a sua claridade sobre aquele lugar desértico. Graças a ela, Clara viu-as.
Dezenas de serpentes de tamanhos e cores variadas. Uma vermelha com o ventre branco, outra vermelha com olhos amarelos, a branca com cauda grossa, uma branca de dorso salpicado de manchas vermelhas, uma negra de ventre claro, uma víbora sopradora, outra que parecia ter um caule de lótus desenhado na cabeça, uma víbora de cornos e cobras prontas a atacar.
Morta de medo, Clara não fugiu. Se a Mulher Sábia a tinha trazido ali, não era para lhe fazer mal.
Clara fixou os répteis um após outro, enquanto eles iniciavam uma espécie de ronda em volta dela. Nos seus pequenos olhos vigilantes, não detectou qualquer hostilidade.
A cabeleira da Mulher Sábia brilhava na noite. Quando estendeu os braços para o solo, num gesto de apaziguamento, os répteis deslizaram para debaixo da pedra redonda.
- Não terás melhores aliadas - disse ela a Clara. - Não mentem, não fazem batota e trazem em si o veneno que te servirá para preparar remédios contra as doenças. Comigo, na montanha, aprenderás a falar com elas e a chamá-las em caso de necessidade. As serpentes são as filhas da terra, conhecem as energias que a atravessam porque estavam presentes quando os deuses primordiais a formaram. Far-te-ão compreender que o medo é uma etapa necessária e que um mal se pode transformar em bem. Aceitas o dom das serpentes?Clara pegou no pau que lhe estendia a Mulher Sábia. Quando este se transformou numa longa serpente dourada cuja boca parecia sorrir, a jovem não a largou.